quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Emocionante e maravilhoso relato do atleta Edmar Prado Lopes Neto sobra a Maratona de New York.

Maratona de Nova Iorque
Corri a Maratona de Nova Iorque 2010. Tempo: 25 anos.


Isso mesmo, você leu certo. Levei 25 anos para correr a Maratona de Nova Iorque. Esse intervalo de tempo deve-se ao fato de que depois de muito tempo retomei as Maratonas. Corri Nova Iorque em 2010, depois de ter corrido 3 Maratonas no Rio de Janeiro no início da década de 80.

Apesar de ainda ser um corredor aos 46 anos, pensava que não seria mais possível correr uma Maratona. Mas o pessoal da Race me ajudou a provar o contrário.

O dia que deu tudo certo, 7 de novembro de 2010:

Saí do hotel às 5:30 da manhã. Temperatura: 2 graus Celsius. Até chegar na largada em Staten Island já havia amanhecido. Céu azul, nenhuma nuvem e a previsão de tempo bom durante a prova, além da perspectiva de frio.
Estou na segunda onda de largada às 10:10 da manhã. A temperatura subiu, deve estar perto dos 4 graus. Para alguns, frio, para mim, difícil pensar em algo melhor. Larguei com o objetivo de correr em 4:00 horas. Comecei rápido, apesar da Ponte de Verazzano. Deve ser a adrenalina, pensei. Vamos indo assim para criar uma “gordura” para o final.
Vou mantendo o ritmo e me sentindo muito bem. Passam os 5 km, os 10 km, os 15 km e a “gordura” para as 4:00 horas vai aumentando. Na meia maratona a folga já é de mais de 6 minutos. Brooklin e Queens já ficaram para trás. Isso mesmo, pensei, vamos assim até quando der. A adrenalina é total. Emoção à flor da pele. Impossível não acenar, bater na mão, aplaudir os milhares de fãs nas ruas. Faltando menos de 15 km para o final já estou com mais de 7 minutos de folga em relação ao tempo almejado.
Cheguei em Manhatan, é o terço final e mais desafiador da prova. É um mar de gente na Primeira Avenida. Já tem corredor mais devagar. Dei a volta no Bronx. Acenei e me vi no telão na saída do distrito. Novo ânimo. Agora só faltam as 5 milhas finais em Manhatan, de novo, com uma diferença, agora é em trecho conhecido. Já estou tranquilo que o objetivo de fazer menos de 4 horas será atingido. Estou deixando para trás o “muro”. Só se alguém me agarrasse como fizeram com o Vanderlei Cordeiro em Atenas é que me faria atrasar a partir de agora. Vou além do sonho, baixar de 3 horas e 50 minutos. Mantenho o ritmo apesar das subidas e do mundo de gente atrapalhando perto do Central Park. Cheguei junto com uma multidão. Parece que deu.
Devem ser 3 horas da tarde. 3 horas 49 minutos e 19 segundos depois de passar pela largada cheguei. Inteiro. Não imaginava que fosse capaz de fazê-lo. Apesar da forte emoção, o choro não sai (é adrenalina demais). Nunca fiz uma corrida tão bem e tão seguro.
Encontro minha mulher e meu filho de 9 anos depois de quase uma hora. Fotos. A sempre tradicional foto com a bandeira do Brasil. Milhares de pessoas nas ruas e no metrô. Você só respira Maratona. Voltei de metrô e taxi para o hotel, andando sem ajuda e enrolado no cobertor prateado.
Acabou. Obrigado Nova Iorque, corri e andei pelas suas ruas e a sua gente me levou, como tem feito a milhares de outros corredores.
O que dá para dizer:
Valeu Biologia. A partir dos treinos longos de 24 km só deu Biologia (3 voltas, 4 voltas, o que seja) e as suas ladeiras. Todos falam das dificuldades das pontes e treinar na Biologia fez com que elas se transformassem em um desafio menor. A Biologia me “matou” em quase todos os treinos, mas no final eu me senti bem na prova.
Valeu treinar sozinho. A pessoa que correria comigo teve que desistir faltando um mês para a prova. Chegar às 6 da manhã na USP no sábado e começar a correr sem ninguém e administrar seu ritmo sem mais ninguém com certeza me ajudaram no dia.
Valeu Central Park. Cheguei uma semana antes em Nova Iorque e, apesar de já ter corrido no parque diversas vezes, fiz e refiz algumas vezes o trecho final da prova. Conhecia bem o final da prova sem nunca ter feito uma.
Valeu Kilimanjaro. Esse ano fiz um trekking e cheguei ao cume do Kili (quase 6 mil metros de altitude). As lições que aprendi naquela semana, em especial o foco e a atitude mental, me ajudaram muito em Nova Iorque. Recomendo aos Maratonistas um “trekking” e aos “trekkers” uma Maratona.
Valeu técnica e conhecimento. Me senti um dinossauro que corria maratonas sem recurso praticamente nenhum. Difícil imaginar correr hoje sem os GUs, Condroitinas e BCAAs da vida.
Valeu Race. Não faria sem a ajuda de todos, em especial, sem a orientação do Ricardo. Treinei os 2 últimos meses sob ameaça de lesão. Procurei seguir à risca tudo que mandaram fazer. Não teria conseguido sem o pessoal.
Valeu Celso, Daniel, Júlio e Samir. Aguentaram as provocações do “carioca” (na realidade eu sou mineiro) e ainda me ensinaram a andar pela USP.
Valeu Pessoal lá de casa. Empurraram o “velho” em mais essa doideira.

Para encerrar:
Não acredite no que falam sobre a Maratona de Nova Iorque. É muito mais e melhor. Recomendo. Cada um deve ter a sua. Essa foi a minha.


Edmar Prado Lopes Neto

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